terça-feira, 17 de abril de 2012

Entre o desejo de ensinar-aprender e a necessidade de educar para a ética

Kelly Cristina Cândida de Souza

Agressões, humilhação, ausência de limites. Esse é o retrato das relações entre grande parte dos estudantes das escolas brasileiras. Os educandos demonstram não ter desenvolvido em casa o mínimo de auteridade necessária para um bom convívio social. A maioria é regida por um princípio muito forte na primeira infância, o egoísmo, a incapacidade de sair de si.

A questão é que isso vem se refletindo com grande intensidade no ambiente escolar, principalmente na sala de aula. Os estudantes parecem não ter referência de autoridade e por isso desrespeitam o Outro com enorme facilidade e sem constrangimento. Isso é muito sério, ao mesmo tempo em que é, também, muito complexo, pois se trata não apenas de quebra de regras, mas da violação do direito do próximo e do própio direito de construir conhecimento, de humanizar-se, de tornar-se cidadão.

Grande parte dos profissionais da educação reclama, diariamente, que as salas de aula estão cada vez mais incivilizadas. Reconhecer o problema e nomeá-lo, dizer que se trata de falta de limites, de indisciplina é um passo importante, mas é apenas um primeiro passo, pois o caminho que leva ao contrário, à disciplina, ao respeito e até mesmo a ideia cristã do amor ao próximo, muito necessária a vida social é longo, e como todo caminho só se faz caminhando, trilhando, subindo, descendo, transpondo obstáculos, enfim, tentando.

Para resolver o problema, muitas vezes recorremos às regras de controle e punição. "É legitimo, mas é pouco. É preciso criar uma lei para coibir algo que o bom senso por si só deveria banir?" questiona Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Especialista em Psicologia Moral.

O caminho para chegar lá, segundo esse autor passa pela formação ética não necessariamente como conteúdo didático, mas principalmente no convívio diário dentro da instituição.

Professores e educadores, que convivem cotidianamente com estudantes que apresentam comportamento inadequado precisam se atentar para as motivações que os estudantes têm para agir mal. Entender o que leva o estudante a praticar atos agressivos e desrespeitosos com colegas e professores pode ajudar no processo de construção de estratégias para extinguir comportamentos ruins.

É preciso refletir que, como afirma La Taille “A dimensão moral da criança tem de ser tratada desde a pré-escola e se estender por toda a trajetória do aluno. O trabalho pode ser feito de forma simples ou sofisticada, não importa: o que a escola não pode é silenciar. Moral, ética e cidadania se aprendem, não são espontâneas”.

Precisamos, dentro da escola, parar para discutir os papeis de cada um dentro do universo de relações em que estamos inseridos, nossas relações com as outras pessoas, as responsabilidades de cada um e os princípios e valores que dão sentido à vida.

Refletindo sobre que estratégias construir para auxiliar os esducandos a agir sob o princípio da ética passo a discorrer, brevemente, sobre uma idéia que tive para tentar levar o estudante a refletir sobre suas atitudes quando elas interferem de modo negativo no outro.

Cotidianamente, quando um estudante agride, humilha ou maltrato ser colega lançamos mão de alguma forma de punição que quase sempre passa pela proibição seja de praticar esportes, na aula de educação física, ou a suspensão do tempo do recreio. Esses caminhos,por vezes funcionam, mas por pouco tempo. Tenho percebido que a má ação do estudante torna a se repetir.

Por tanto proponho que, seguindo o princípio, ou dito popular do “o mau com o bem se paga” que tal instituirmos o projeto “Atitudes positivas:medida educativa”? Tal projeto, em linhas gerais, consistiria, em:

Ao cometer algum ato que fere o direito do próximo, o estudante que teve mal comportamento deverá, sob a supervisão de um educador, diretora, ou Pedagoga, praticar ações que o faça refletir sobre a possibilidade de usar seu corpo ou voz para praticar uma boa ação. O intuito é educar e conscientizar o agressor sobre a possibilidade de fazer de si um instrumento do bem, e também fazê-lo pensar que ele pode ser referência da positividade e não o contrário.

Ações que o estudante pode desempenhar para refletir sobre seu proceder

a)Plantar uma árvore e regá-la todos os dias.

b)Ler, ou contar uma história em uma sala que não seja a dele.

c)Acompanhar a limpeza da cantina após o recreio.

d)Organizar os livros da biblioteca após o empréstimo de livros

e)E tantas outras sugestões que podem ser encaminhadas...

Todas essas ações devem ser desenvolvidas por tempo prolongado e acompanhadas por lições éticas, ministradas pelo responsável pelo acompanhamento do estudante.

É importante lembrar que não se trata de punição, mas de uma tentativa de educar para a ética, de fazer algo por aquele ou aquela que precisa da ajuda de um educador para perceber e ter dimensão das suas atitudes.

Um comentário:

  1. Que belo texto.
    Serve como reflexão e ação para muitos...
    Elenice.

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